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Chamado ao boicote de disciplinas 1s/2021

A Unicamp está se preparando para iniciar o seu primeiro semestre letivo de 2021 em meio a segunda onda de COVID-19, com mais de 215 mil mortos e média móvel de mortes acima de 1000. A aprovação pela Anvisa em caráter de uso emergencial das vacinas CoronaVac (produzida no Brasil pelo Instituto Butantan) e AstraZeneca (no Brasil produzida pela Fiocruz), mesmo com todas as suas exigências descabidas quando comparadas a outras agências reguladoras internacionais, representa a luz no fim do túnel para o povo. Entretanto, a realidade nos mostra o quão incerto o caminho a ser percorrido ainda é. A política de subjugação nacional brasileira, especialmente no âmbito científico tecnológico, nos faz presenciar episódios de atraso na entrega de insumos para as vacinas, problemas logísticos quando a vacinação e falta de oxigênio em hospitais.


Retornar às universidades para atividades obrigatórias experimentais em laboratórios com pouca circulação de ar e sem o espaço necessário para garantir o distanciamento social adequado, como proposto pelo IQ mesmo em sistema de rodízio, é pôr em risco nossos estudantes, docentes, funcionários, terceirizadas e sobrecarregar ainda mais o sistema público de saúde. Pior ainda será para os ingressantes, que nem direito ao rodízio terão na disciplina cujo objetivo é introduzir os estudantes a um laboratório químico (QG109). Mesmo a reposição prevista para os laboratórios à distância nas férias de verão foi cancelada (GR 04/2021) devido ao recrudescimento da pandemia.

Enquanto por em cheque a saúde da comunidade universitária é um absurdo, outro é continuar no sistema de Ensino Remoto Emergencial (ERE) que precariza as relações de ensino-aprendizagem, a discussão científica, sobrecarregam os alunos com o volume de atividades em meio ao caos sanitário e crise econômica, banaliza aulas práticas de forma online. No caso do curso de Química, este modelo colocado sobre as matérias de cunho experimental causam enorme impacto, visto que as aulas práticas em laboratórios são essenciais para a formação de um químico. Analisando o último semestre, é possível obter dados preocupantes sobre a perda de carga experimental que cada ano e modalidade sofreu. (Tabela 1) Além disso, a disseminação generalizada dos modelos de ensino à distância, em especial de Educação à Distância (EaD), favorecem a precarização das instituições públicas de ensino e preparam um cenário de privatização. No Brasil, 90% do ensino superior já é privado. Tabela 1: Perda de carga experimental por modalidade e ano de ingresso.

Perante este cenário, cabe aos estudantes repudiar a continuação do cada vez menos acreditado ERE e, ao mesmo tempo, o retorno a todo custo às atividades acadêmicas obrigatórias sem garantia total do oferecimento das condições sanitárias necessárias. Como saída, temos o boicote às matrículas de disciplinas experimentais como feito no semestre anterior, que obteve grande adesão dos estudantes (Relatório Boicote 2020). Contudo, o repúdio ao ERE e o boicote às disciplinas experimentais não são justificativa para a inércia em relação ao que está acontecendo no país, pois em um momento tão crítico como este, a universidade não pode ficar parada. Assim continuamos a clamar pela necessidade de projetos de extensão que liguem a universidade à população, auxiliando e provendo suas necessidades mais básicas, além de continuar com as atividades de pesquisa tão necessárias para dar respostas e conter a pandemia. O CAEQ, desde o semestre passado, fundou o Comitê Estudantil de Solidariedade Popular (CESP) com o objetivo de ligar os estudantes ao povo. Já realizamos arrecadação e distribuição de alimentos, fizemos sabão caseiro, além de levantarmos as demandas da população e nos colocarmos à disposição para saná-las com todos os cuidados sanitários possíveis.

Embora não tivemos tempo hábil para convocar uma Assembleia Geral bem divulgada dado o pequeno período inabitual de matrícula que se iniciou logo após um dos semestres mais cansativos para os estudantes, nós continuamos a incentivar o boicote consciente às matrículas para aqueles que tiverem condições de fazê-lo como resposta a imposição do ERE, mostrando à Reitoria a insatisfação estudantil.

Além disso, gostaríamos de solicitar que aqueles estudantes que quiserem auxiliar na realização das tarefas e atividades do CESP, divulgando para a sociedade a importância das universidades públicas estarem conectadas às demandas da população neste momento crítico, entrem em contato conosco. Apenas a luta coletiva protegerá o povo do descaso do Estado.

Gestão Primavera 2021.

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