Nós do CAEQ-UNICAMP e a Frente contra a EaD da USP-RP estamos organizando uma atividade contra a permanência da EaD pós-pandemia. As manifestações ocorrerão nas duas universidades na sexta-feira (11 de maio) e os horários e locais serão divulgados na quinta-feira (09 de junho).
A nota está à seguir:
Nota - USP-RP E UNICAMP CONTRA A EAD!
Desde março de 2020, o Brasil foi surpreendido com a gravidade da pandemia do novo Coronavírus. Buscando métodos para minimizar a contaminação, as atividades presenciais foram suspensas em diversos setores. A partir disso, a sociedade buscou meios para mitigar os efeitos desse confinamento e o principal deles foi o uso da internet para a realização das atividades. Na seara da educação não foi diferente, visto que os alunos “não poderiam” perder o seu ano letivo.
Contudo, a busca dessa suposta alternativa para mitigar os efeitos da falta de aulas presenciais atuou como um catalisador para a implementação da educação à distância (EaD), sob a forma de ensino remoto emergencial (ERE). Esta modalidade de ensino encontra-se em ascensão durante as últimas décadas, especialmente na rede privada, devido aos diversos incentivos por parte do Estado, a mando do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, buscando aumentar as taxas de lucro no mercado da educação, reduzindo despesas aos empresários do ramo ao custo da precarização do ensino.
Embora a introdução da EaD nas universidades públicas tenha sido um processo mais lento, principalmente devido à resistência do movimento estudantil e dos trabalhadores em educação, a pandemia serviu de pontapé inicial para esse processo. Em virtude disso, é necessário ponderar que, a priori, a implementação de um ensino remoto nas universidades públicas não teve seu devido planejamento, pois o mesmo fora imposto, sem qualquer discussão com a comunidade discente ou docente, sem, ao menos, fazer o devido levantamento de quantos alunos possuem as ferramentas necessárias para o acesso às aulas online. Além disso, é importante considerar que nem todos os estudantes possuem a estrutura física adequada nas suas residências para a realização das tarefas por diversos motivos, o que torna seu processo de aprendizagem ainda mais defasado.
Após um ano de Pandemia e com incertezas acerca do retorno das aulas presenciais, o ensino remoto nas Universidades Públicas ainda continua com seu mesmo escopo. Tudo isso em nome de preservar um cronograma de metas a serem cumpridas, independentemente das consequências à saúde mental de docentes e alunos, bem como ao próprio processo de ensino-aprendizagem, que isso possa trazer.
Em reportagem recente ao monopólio de imprensa, os Pró-Reitores de Graduação da USP e da Unicamp, duas das mais conceituadas universidades públicas do país, afirmam que “a utilização do ensino remoto é uma tendência que pode se concretizar em determinadas disciplinas” e ainda que “...talvez a gente possa fazer uma reengenharia para continuar com atividades remotas e guardar para o presencial atividades práticas ou as teóricas em que é necessária a interação com o docente”.
A interação com o docente não é fundamental para qualquer processo de ensino-aprendizagem? Ou agora faremos como as universidades privadas, que demitiram docentes em massa uma vez que as aulas gravadas podem ser reproduzidas por longos períodos sem a necessidade de atualização? Ainda, que tipo de discussão científica será fomentada nestas atividades remotas?
Recentemente, a Unicamp passou pela Consulta à Reitoria, processo em si bastante antidemocrático. Nos programas das chapas candidatas, as propostas referentes à EaD e ensino híbrido são diversas:
“Estimular a produção contínua de conteúdos disciplinares disponíveis em plataforma online, gratuita e de livre acesso, em consonância com os avanços obtidos através da modalidade EAD, inclusive, fortalecendo iniciativas com redes e veículos de comunicação de instituições públicas”; (Chapa Saad e Zezzi)
“Aprimorar as competências em letramento digital e investimentos nos ambientes virtuais de aprendizagem, oferecendo cursos e estrutura para apoiar a utilização de estratégias de ensino com uso da tecnologia e que permitam o ensino híbrido no período pós-pandemia onde ele se fizer necessário”; (Chapa Sérgio e Eliana)
“Aproveitar a experiência de docentes, estudantes e dos grupos de pesquisa que atuam na educação com uso de tecnologia, assim como parcerias com outras instituições, como a Univesp”; (Chapa Sérgio e Eliana)
Em relação à terceira chapa (Tom Zé e Luiza), não foi possível encontrar seus programas online, visto que o site da chapa foi retirado do ar após sua vitória na consulta. Entretanto, em vídeos da campanha é possível notar o interesse da chapa em aproximar a universidade da iniciativa privada.
Na USP, o Ensino Remoto Emergencial segue causando problemas para os departamentos. Sem nenhuma discussão ou audiências públicas, o ensino remoto é “sugerido” pela reitoria e pró-reitoria como única opção e os coordenadores dos cursos tendo que se virar para resolver os inúmeros problemas causados pelo ensino remoto, como a falta de computadores e internet para os alunos, problemas familiares, problemas psicológicos e dificuldade no aprendizado por esse modelo de ensino.
A USP, considerada uma das melhores universidades do país, está totalmente sem estruturas para voltar de forma presencial. Departamentos com falta de professores, a universidade com falta de funcionários, as moradias precarizadas ao máximo e a permanência estudantil quase inexistente. Não sucateada o bastante, a implementação antidemocrática do ensino remoto, só piorou ainda mais o estado da universidade.
Não pode-se reduzir a implementação da EaD apenas ao que tange o ensino. A EaD acompanha os projetos de privatização e terceirização, os projetos escola sem partido e o future-se. As universidades estão sucateadas propositalmente, parte do projeto neoliberal de privatização que, com a EaD, consolida-se.
O pró-reitor da USP, Edmund Baracat, coloca como escolha dos departamentos utilizar o Ensino Híbrido ou o Ensino a distância, mas ameaça professores de serem exonerados caso não aderirem esses modelos. Na publicação do jornal Folha de São Paulo, é relatado que o pró-reitor diz que as faculdades gozam de autonomias consideráveis para definir currículo e didática, mas na prática já vemos que é o contrário.
Por todos os motivos citados acima, nós, alunos da USP e da UNICAMP, nos organizamos contra a EaD e seus sinônimos, pela volta do ensino presencial somente após a vacinação da comunidade, que as universidades estejam a disposição para ajudar a população, que neste momento valorize o tripé universitário, especialmente pesquisa e extensão. Manifestamos, por meio desta, nossa indignação com a falta de democracia e diálogo nas universidades, nossa crítica à EaD e ao projeto de privatização. As ações do governo de Bolsonaro e generais, em estado de putrefação, presentes nas universidades, passando a boiada aos montes, não poderão e não serão mais permitidas.
PELO DIREITO DE ENSINAR, ESTUDAR E APRENDER!
Gestão Primavera 2021, CAEQ
Frente contra à EaD, USP-RP
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